COMO GERAR QUALIDADE DE VIDA NAS CIDADES?
O que podemos aprender com uma cidade de menos de 5 mil habitantes?
Cássio Wilborn
7/5/20254 min read


Recentemente, o Município de Presidente Lucena, no interior do Rio Grande do Sul, apareceu entre as primeiras colocadas no ranking nacional de qualidade de vida. Com pouco menos de 5 mil habitantes, Presidente Lucena conquistou o 6º lugar no Índice de Progresso Social (IPS Brasil 2025).
Em um país onde metrópoles acumulam recursos, influência política e investimentos robustos, esse resultado surpreende e, ao mesmo tempo, ensina!
📉 Quando menos é mais
Presidente Lucena é uma cidade discreta, encravada na Serra Gaúcha, que cresce sem pressa e sem exageros. E talvez justamente por isso esteja onde está. O próprio índice que classificou o município não mede PIB, arrecadação ou quantidade de obras, mas sim qualidade real de vida: acesso à saúde, educação, segurança, sustentabilidade e inclusão social.
Aqui trago uma pequena provocação: será que o tamanho da cidade está diretamente relacionado à sua capacidade de oferecer bem-estar às pessoas?
Segundo o Arquiteto, Urbanista e Matemático Christopher Alexander, em seu clássico A Pattern Language, o número ideal para a boa organização de um bairro ou cidade gira em torno de 7.000 pessoas. Um tamanho em que ainda é possível manter vínculos, confiança e senso de comunidade real.
Coincidência ou não, entre as cinco cidades mais bem colocadas no ranking, quatro têm menos de 5 mil habitantes.


🤝 Quando gestão e comunidade se encontram
Buscando entender como construir qualidade de vida nas cidades, tive a oportunidade de conversar diretamente com o Prefeito de Presidente Lucena, Sr. Luiz José Spaniol, onde duas falas me pareceram bastante interessantes:
A primeira delas, logo ao início de nossa conversa, ao falarmos da classificação do Município, Luiz comentou que “isso é uma conquista da população.”
Essa simples frase me remeteu ao que já comentei aqui em algumas vezes: A cidade é o reflexo da sua população - enfatizando que quem realmente faz uma cidade são as pessoas e o Poder Público é apenas um instrumento para tal.
Em um segundo momento, Luiz também comentou que "aqui, todos se conhecem”, o que pode nos fazer pensar sobre o senso de segurança. As próprias pessoas são as grandes responsáveis pela segurança de uma comunidade. Quando todos se conhecem, mesmo que seja "de vista", existe uma certa preocupação com quela pessoa. Da mesma forma, qualquer movimentação incomum, pode ser visto como alerta e atenção. Ou seja, o seu vizinho "xereta" é sim uma maneira de proporcionar segurança para o seu bairro.
Essas duas frases do Prefeito Luiz são sim bem simples, mas são potentes. Mostram que a qualidade urbana não nasce apenas da caneta do gestor. Ela se constrói no dia a dia, na maneira como as pessoas se relacionam, se respeitam, cuidam do espaço coletivo e cobram por ele.
Em cidades pequenas, o poder público está mais próximo da população, e a resposta às demandas tende a ser mais ágil (eu disse "tende a ser mais ágil", e sabemos que em muitas cidades isso não acontece, enquanto algumas cidades grandes conseguem também ter uma rápida resposta). Continuando, a sensação de pertencimento também é maior em pequenas cidades. O espaço é percebido como extensão da própria casa. E isso muda tudo.


🌿 A força do que é natural
Uma observação particular minha: Ao observar Presidente Lucena, logo ao chegar na cidade, uma característica salta aos olhos, que é a predominância das áreas verdes. O ambiente natural não foi substituído por concreto, ele convive com a cidade. Isso, por si só, já tem impacto na saúde física e mental da população.
E não se trata apenas de "criar áreas verdes". É importante entender que, criar pontos de vegetação nas cidades é extremamente funcional, porém, ainda melhor, é fazer com que a cidade cresça abraçando a vegetação existente, criando uma combinação homogênea entre edificações e vegetação.
Enquanto muitas cidades correm atrás do “desenvolvimento” a qualquer custo, outras silenciosamente trilham caminhos de bem-estar. Menos barulho, menos ego, consequentemente, mais resultado.
✨ Então, o que estamos buscando?
Essa é uma pequena reflexão que quero deixar:
Queremos construir cidades grandes fisicamente ou grandes em valor, em comunidade e qualidade de vida?
É importante saber o que realmente queremos, afinal, usufruindo de uma passagem de Lewis Carroll, em Alice no País das Maravilhas, quem não sabe para onde quer ir, qualquer caminho serve.
Em contraponto, ao identificarmos onde queremos chegar, é possível, através de planejamento estratégico, criar um mapa para atingir esse objetivo.
Estou aqui dizendo que o certo seria existir apenas cidades pequenas? Lógico que não, afinal a 3ª colocada do ranking possui quase 500 mil habitantes. Mas enfatizo que talvez a verdadeira inovação urbana esteja nas coisas mais simples: respeitar o tempo, valorizar o vínculo humano, manter o verde e atender o essencial com excelência.
Presidente Lucena não é uma exceção, é um sinal! Podemos considerar como um lembrete de que é possível fazer diferente, existindo caminhos tão importantes quanto o "crescimento" de fato.
A lição que fica é: qualquer cidade pode oferecer qualidade de vida, porém, é preciso PRIORIZAR A CIDADE!
Texto de
Cássio Wilborn


