A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA: POR QUE CIDADES COM PRESENÇA DE ÁGUA CRIAM PESSOAS COM VIDA PLENA

Descubra por que a água é essencial para a qualidade de vida nas cidades e como ela impacta a mente humana dentro do urbanismo influenciando o seu bem estar e o seu desenvolvimento.

Cássio Wilborn

11/25/20254 min read

Por que precisamos de espaços com água?

Dentro da ideologia de desenvolvimento urbano e qualidade de vida, parte essencial da premissa é muito simples: o ambiente molda as pessoas. Nossas rotinas, nossos níveis de atenção, nossa saúde emocional e até nossa capacidade produtiva respondem aos sinais do espaço ao nosso redor. Por isso, faz todo sentido que cada pessoa tenha atenção aos ambientes da sua casa e do seu espaço de trabalho. Mas existe um outro campo maior onde a transformação é tão potente quanto: o ambiente externo, a cidade.

Há uma beleza discretamente escondida nisso: a cidade pode tocar nossa biologia. E entre os elementos que mais nos tocam está a água, silenciosa, reflexiva, reguladora do bem estar humano.

Porque a água importa! Entre o sensorial e o científico

No plano sensorial, a água oferece calma, convite à permanência e distância do ruído cotidiano. Em termos técnicos, a presença de superfícies com água e margens revitalizadas atuam como infraestrutura de bem-estar por vários motivos, onde irei citar os principais:

Restauro cognitivo: ambientes com aparência natural e presença de água facilitam a recuperação da atenção, reduzindo a fadiga mental;

Redução do estresse: a proximidade com a água diminui marcadores de ansiedade, promovendo estados fisiológicos de relaxamento;

Conectividade social: corpos d’água bem projetados e posicionados de forma estratégica funcionam como polos de encontro, aumentando o uso público e a segurança por presença. Isso é evidenciado no livro "Uma Linguagem de Padrões" de Crhistopher Alexander;

Regulação microclimática: espelhos d’água, lagos, rios e fontes ajudam a mitigar a temperatura e a gerir escoamentos, integrando-se a soluções de drenagem urbana;

Biodiversidade e resiliência: corpos hídricos urbanos, quando tratados ecologicamente, ampliam corredores verdes e a resiliência urbana frente a eventos extremos. É a natureza servindo de proteção justamente contra os seus próprios eventos climáticos.

Em suma, a presença da água nas cidades é um benefício estético, psicológico e técnico ao mesmo tempo. um investimento com retorno múltiplo.

Do individual ao coletivo: por que a cidade faz o possível onde sua casa não dá conta

Ter uma fonte ou um espelho d’água em casa seria ótimo para o bem estar de qualquer pessoa, mas pode ser algo um tanto quanto complexo: alto custo, manutenção e espaço são barreiras reais e compreensíveis. Agora imagine escalar essa experiência: o que é inviável individualmente torna-se viável quando planejado coletivamente.

Cidades têm capacidade técnica e econômica para implantar infraestruturas "molhadas". Lagos, espelhos d’água, margens arborizadas, fontes cívicas e sistemas de retenção que também servem como espaços públicos de contemplação.

Do ponto de vista de planejamento, isso exige apenas 2 atitudes governamentais:

1 - Integração entre políticas públicas: drenagem urbana, parques, mobilidade ativa e saúde pública pensando conjuntamente. É uma abordagem multidisciplinar que quando colocada em prática, satisfaz diferentes setores de uma única vez;

2 - Projetos de baixo custo e alta replicabilidade: não são necessários projetos astronômicos, na verdade, o ideal é que esses espaços sejam projetados de forma econômica, justamente para viabilizar a replicação dos mesmos pela cidade.

Quem controla a cidade? A resposta é mais simples do que parece

À primeira vista, o espaço urbano parece imutável, difícil de se opinar a respeito, algo apenas para governantes. Mas a lógica política mostra outra realidade: gestores respondem à demanda pública. Eleições, aprovações orçamentárias e legitimidade política são fortemente influenciadas pelo que a população prioriza.

Isso significa que a transformação passa pela compreensão coletiva. Quando cidadãos entendem os benefícios de espaços com a água, quando valorizam e passam a cobrar essas intervenções, os governantes tendem a agir em resposta.

Portanto, há um papel ativo de cada morador: formar opinião, exigir qualidade e participar do processo. De forma resumida, é preciso entender sobre o que te faz bem e passar a exigir por isso. A falta de participação e de exigência é uma porta aberta, de forma escancarada, para uma "cidade qualquer".

Qualidade de vida + Planejamento Urbano: a mesma equação

No fundo, tudo é ambiente. O desenvolvimento das pessoas, de forma individual e coletiva, nasce do conjunto de estímulos que a cidade nos oferece.

A arquitetura interior melhora a produtividade; a cidade exterior amplia a vida. Quando unimos um projeto de alta qualidade sensorial com políticas urbanas técnicas e bem geridas, criamos um ganho coletivo de bem-estar mensurável.

Quer viver bem? Tenha atenção com o seu ambiente, seja na sua própria casa, no seu trabalho e nos espaços externos que frequenta pela sua cidade.

Texto de
Cássio Wilborn

Acredito que é possível construir cidades melhores, lugares onde viver signifique ter qualidade de vida e bem-estar! É possível superar o cenário político que tantas vezes abandona nossas cidades e, sim, é possível progredir. Mas para isso, é preciso compreender que o verdadeiro motor da mudança está muito mais na própria população."